Monday, October 26, 2009

Voltámos


Voltámos. A cabeça ainda nos foge muitas vezes para as ilhas. Temos saudades das pessoas, dos sítios, das hiaces, da comida, da música a todas as horas do dia, da cor e do ritmo. Do estar e do sentir que é tão diferente em Cabo-Verde.
A caixa está vazia, mas cada um de nós volta cheio de sorrisos, histórias, experiências, danças, alegrias e tristezas, (in) certezas, ideias e projectos. Voltamos cheios de futuro.
Certos de que foi um projecto vivido, à medida de todos e de cada um, temos agora vontade de dar sentido ao que vivemos, nas nossas vidas pessoais e profissionais. O desafio é conciliar o melhor das duas realidades e trazer para o dia-a-dia as coisas pequenas e grandes que fomos aprendendo ao longo dos dois meses. E a frase que nos acompanhou e que nos traz a importância do que fazemos com o aprendido permanece no pensamento. Como será o nosso dia seguinte?
Agradecemos a todas as pessoas que conhecemos e que nos acompanharam e que fizeram de Ribeira de Craquinha, Pedra Rolada, Salamansa, Ribeira das Patas, Porto Novo, Ribeira Grande e Manta Velha, a nossa casa durante dois meses. Apetece escrever o nome de cada uma delas, porque apesar de por vezes termos tido tão pouco tempo, esse tempo foi tão bom! Agradecemos os sorrisos, os serões, os passeios, os mergulhos no tanque e os mergulhos na praia, a disponibilidade, a partilha e as aprendizagens. Todos foram mesmo incríveis. Agradecemos também às nossas pessoas de cá que nos ajudaram a viver esta experiência como desejámos.
O trabalho que realizámos enche-nos de orgulho, de nós e daqueles com quem trabalhámos. Sabemos que o fizemos sempre de uma forma séria e comprometida e que demos o nosso melhor. Queremos muito ter novidades de lá, saber de projectos, de ideias… Conhecemos agora melhor o significado das palavras voluntariado, cooperação e desenvolvimento. Temos ideias, uma consciência e uma palavra a dizer. Porque agora sabemos qual pode ser o caminho para um trabalho mais eficaz e sustentável na área do desenvolvimento e que papel podem a educação e formação nele desempenhar. Se já acreditávamos nisto, agora sabemos como as coisas podem acontecer.
Cabo-Verde ficará para sempre em nós. Gostamos de cachupa, principalmente guisada, pela manhã. Gostamos de dançar zouk. Não nos aventuramos tanto na colá S.João, mas até queremos experimentar. Sabemos que um dos melhores sumos do mundo é feito em Santo Antão. Percebemos porque é que algo como a chuva pode ser tão desejado. Sabemos o que faz rir, o que diverte e o que preocupa as pessoas em Cabo-Verde. Conhecemos a esperança e resiliência daquelas pessoas. Sabemos e sentimos tantas coisas que antes desconhecíamos.
Sentimo-nos privilegiados por termos tido a oportunidade de conhecer mais a fundo esta realidade. Porque vivemos e estivemos lado a lado com as pessoas. Sabemos que o nosso tempo só nos permitiu conhecer um bocadinho da complexa, interessante e cativante sociedade cabo-verdiana. Mas aprendemos uma forma diferente de fazer e de pensar, e isso trazemos connosco. Teremos sempre muitas coisas para recordar juntos e com aqueles que acompanharam o nosso projecto, mas mais que as recordações sabemos que o mais importante do nosso projecto ficou lá com o nosso trabalho e o nosso estar junto das pessoas. Mas também dentro de nós e nas pessoas que somos hoje. Um bocadinho de nós ficou lá e um bocadinho de lá está em nós.
Se calhar muito do que idealizámos acerca do projecto não aconteceu. Mas sentimo-nos felizes pela forma como aconteceu, porque o transformou numa experiência única. Não queríamos que tivesse sido diferente, não nos imaginamos a fazer isto com outro grupo. Porque assim é que ganhou sentido. Cada um de nós e nós todos juntos.
Sabemos que há ainda muita coisa da nossa experiência individual e de grupo que temos de reflectir. Há muita coisa que ainda não entendemos e que ainda não integrámos. Aquilo que aprendemos e o que não conseguimos aprender, os obstáculos que encontrámos, o que conseguimos ser e dar ao projecto, mas também as barreiras que não conseguimos transpor. Mas não será esta reflexão, esta dúvida e este crescimento o maior contributo do Nô Djunta Mon nas nossas vidas?

O nosso mundo ficou maior. E melhor.

Obrigada a todos!
Ezequiel
Hugo
Maria
Sofia


NDM CV09