Tuesday, September 13, 2011

Notícias de Contuboel..!

Estamos juntos aqui na Guiné-Bissau. Quatro pessoas, há cerca de quatro semanas, com quatro pilares a unificarem a nossa vida. Os nossos quatro corpos são sorrisos por descobrir uma família de abraços grandes e calorosos. Os nossos quatro corpos são alegria de viver uma cidade cheia de casas de portas abertas, pisadas calmas na passada pelas ruas de chão cor de laranja, pelas noites de luar e estrelas, relâmpagos e chuvas, dias verdejantes e luminosos.
Os nossos quatro corpos crescem por dentro quando percebemos que as pessoas que pretendemos formar, aprendem, felizes, potenciando o futuro amanhã deste país, pequeno na área mas tão grande na humanidade.
Os nossos quatro corpos são cada um a olhar, a fazer e a aprender coisas diferentes e iguais. Os nossos quatro corpos estão juntos na vontade de aqui estar e partilhar cada momento com genuína verdade, com a certeza de mudança individual, colectiva e naqueles que nos rodeiam.

Mantenhas!

Team Contuboel - Ana Lua, Edu, Flávia e Irina

Wednesday, September 7, 2011

Cassacá é verde, muito verde!

Um verde puro e selvagem que cresce livre juntando na densa floresta palmeiras, cajueiros, borboletas, castelos de formigas baga-baga e poilões.
É impossível traduzir as duas horas que separam Quebo, onde a estrada de alcatrão termina, de Cassacá. Elas não são tempo, não são espaço, são uma realidade em si. O caminho entra dentro de nós, vasculha e limpa o que temos, deixa-nos cheios à medida que nos torna vazios. Poderia o mundo ter nascido aqui, pela terra sendo mato, do mato sendo árvore, macaco, esquilo, pássaro e céu. E não acaba. O verde (que outro nome lhe dar?) não acaba.

Cassacá é lá. Numa linha de rua entre as palhotas feitas reinos, no constante estar do dia. Percebemos que estamos a chegar: "Fotê! Fotê! Fotê!". As crianças já não estranham os corpos de cor diferente, mais pálidos, e gritam à nossa passagem. Riem e dizem adeus. Um adeus que não despede, é encontro. As nossas palmas das mãos afastadas mas unidas no mesmo movimento.

Finalmente chegámos àquela que seria a nossa casa nos próximos dois meses. Também ela verde, a receber a nossa energia e alegria. O quarto ainda guarda a presença ISU do ano anterior, a cor da Xana, da Sónia, da Carla e da Filipa. Tal como elas, mantivemos a organização escolhida: quarto à esquerda, escritório à direita. Depressa deixamos as bagagens para trás e recebemos o calor dos nossos novos amigos de palmo e meio: Cadjali, Nfanso, Bia, Abu, Secuna, Ansumani, Seiduba. Os olhos em delírio por conhecerem pessoas novas. Ao fim de um mês no embalo desta pequena tabanca eles são o carinho maior de uma comunidade que nos recebeu de braços abertos e recordando sempre quem no ano passado aqui sorriu e descobriu com eles a vida simples de Cassacá.

Agora, já depois de muitos passeios pelos trilhos de terra vermelha, de muitas idas ao pão, ao costureiro e à escola onde damos a formação, sentimo-nos parte da comunidade. Ao longe e ao perto chamam sem medo: Ana, Sara, Carolina, Raquel! E nós retribuímos o sorriso. Aprendemos a ir, a estar, a sorrir aos momentos simples e a admirar as mulheres. Experimentámos a mestria de tirar água do poço e sobrevivemos à extensa fauna de insectos que nos tatuaram as pernas. Confiantes, partimos à aventura e fomos plantar arroz à bolanha, à paisagem que é arte do homem, onde o horizonte é infinito e adorado pela água. Assombradas pela beleza à nossa frente percebemos que a missão não seria fácil. Depois de uma hora de caminho, descalças, com os pés cobertos de barro cinzento, escorregando e rindo, chegámos ao local. Ali, num campo negro e cheio de água, plantámos arroz. Ensinadas pelas mulheres artistas da vida e do labor tentámos repetir os gestos que para elas são naturais. E aos poucos a obra nascia, os pequenos tufos verdes começavam a cobrir a terra. As nossas "parceras" contemplavam divertidas a nossa humilde contribuição. Porém, outro trabalho nos aguardava, a preparação da sessão do dia seguinte, e por isso voltámos a casa.

Com a formação descobrimo-nos a outro nível. Em pequenas etapas fomos construindo as sessões, o ser formadora neste contexto, o falar devagar, o participar e sorrir na aprendizagem partilhada. Depois de uma semana de formação em Dinamização Comunitária para um grupo de 10 formandos, estamos agora a meio da nossa segunda formação em Metodologias Participativas de Ensino, trabalhando com um grupo de 31 formandos. O desafio é maior mas a confiança no nosso trabalho também. Sessão a sessão melhoramos, reconhecemos que os frutos do trabalho se revelam devagar, mas confiamos no fio do futuro. Cada passo conta, para todos.

A lua, e o calendário, ditaram entretanto uma paragem na formação. O Ramadão, a festa tradicional muçulmana que marca o fim do jejum, acontece por estes dias. Os formandos regressam às suas tabancas para festejarem com a família e nós partimos também. Vamos para Norte, rumo ao reencontro com a nossa metade Nô Djunta Mon em Contuboel. Após uma breve visita aos nossos companheiros de aventura Edu, Irina, Flávia e Ana Lua, seguimos todos para Bubaque, a ilha bonita do arquipélago dos Bijagós. Ali, e ainda com algum sal na pele, vivemos a magia de estarmos novamente juntos. Partilhámos momentos, recordámos dias intensos de formação, contamos alegres o que fomos descobrindo na terra sabi, Todos na sua forma particular confessaram-se encantados com a Guiné.

Assim continue o nosso caminho no próximo mês...

Saudades e mantenhas para todos!

Abraços e beijihos das meninas de Cassacá,
Ana, Carolina, Raquel e Sara



NDM...a oito...em Bubaque!