Monday, September 29, 2008

O regresso ao ponto de partida com a missão cumprida... e a alma cheia!!

Os 30 km de asfalto esburacado que separam Pitche da cidade mais próxima, Gabu, levam quase 2h a percorrer. Acompanhados pelo Demba, coordenador da Divutec, chegámos depois do cair da noite.

Pitche é mais uma pequena terra do interior esquecido da Guiné, a caminho da Guiné-Conakry. Todas as segundas feiras recebe o “lumo”, a sua grande atracção: uma enorme feira que enche as ruas, muito ao estilo das feiras da linha de Sintra, e onde se vende desde leite de cabra em alguidares a camisolas do Sporting. Foi numa dessas segundas agitadas que começámos a formação com os jovens, semelhante à que tínhamos já feito em Pirada. Foram cinco dias de troca de experiências, a terminar com debates sobre temas como igualdade de género, planeamento familiar na região. Foi muito gratificante trabalhar com os jovens de Pitche, não fossem eles movidos por uma tal energia que os leva a organizar grandes torneios de futebol mesmo em tempo de jejum e a dinamizar duas rádios comunitárias, uma escola primária comunitária e uma associação juvenil com o mesmo nome do nosso projecto: Nô Djunta Mon.

Na semana seguinte demos uma curta formação de três dias às parteiras e aos agentes de saúde. Repetidas as dificuldades que já tínhamos sentido em Pirada, agora esperamos apenas que tenham ficado alguns dos conteúdos que quisemos passar sobre nutrição, higiene e doenças como a sida ou a malária. Teremos então deixado o nosso pequeno contributo neste esforço da Divutec em capacitar a população do leste isolado da Guiné-Bissau, onde há largos anos não é avistado um médico ou um responsável de saúde.

De novo ao cair da noite, de novo acompanhados pelo Demba, cumprimos a longa viagem de regresso a Bissau. Era o dia do 35º aniversário da independência da Guiné-Bissau e do rádio do jipe saíam discursos tristonhos a invocar os belos sonhos de Amílcar Cabral, mas também canções de Justino Delgado transbordantes de alegria.Pela janela passavam poilões, bolanhas e tabancas. Na nossa cabeça corriam os “bom dia!” simpáticos da Cumba e do Seico, da Divutec, os longos passeios ao final da tarde, o sabor crocante das maçarocas de milho assado, a voz tresloucada que dos altifalantes da mesquita chamava as pessoas para a reza… Tantos pequenos momentos vividos nesta realidade tão radicalmente diferente, mas tão docemente familiar.
Equipa NDM Pitche e Pirada 2008
Susana Costa, Francisco Pedro e Izaliana Parente

Wednesday, September 24, 2008

Descobrindo a "Morabeza" em Cabo Verde




Já em terras de São Vicente, lembramos com a alegria as despedidas de Santo Antão… a cachupa na panela, o ponche a encher os copos, a porta que não se fecha, os sorrisos que se despedem e os abraços que se apertam.

Arrumam-se as últimas malas, a porta já esta trancada, agora os olhares fotografam locais de rotina e de passagem; mais um abraço ao Sr. João e aí vamos nós… “Neste barco levamos motivação para mais uma missão em São Vicente!”

“Mami, Mami!!!” Eis a nossa madrinha querida no cais!

Reunião de validação e pormenores acertados, tudo nos espera em Salamansa! Aldeia de gente rica pela simplicidade, pés descalços e reguilas saltitam aqui e ali, sorrisos curiosos se aproximam. Aos poucos, o conhecimento e a partilha tornam-se momentos de alegria e cumplicidade. Nós provamos a cachupa e eles o arroz doce.

O acolhimento destes novos amigos traduz-se agora na famosa morabeza que em Portugal tanto ouvia-mos falar: os jantares em casa de uns e o futebol na casa de outros, lembram-nos a família de Portugal pelo seu carinho, gosto e boa vontade.

Nestas duas semanas que se passavam, duas formações se concretizavam: a Joana e a Paula trabalhavam o associativismo juvenil com os jovens desenhando esboços de amizade, enquanto a Vanda e o Fábio se empenhavam na gestão associativa com as mulheres da comunidade. Pelo meio dois workshops do GAE limaram ainda as últimas dúvidas dos estudantes Cabo-verdianos que anseiam a chegada a Portugal.

Agora, a três semanas do final desta missão, não dispensamos alegria nem diversão, não descuidamos responsabilidade da última formação e nem das caminhadas pela praia no fim do dia. De braços abertos para o que falta viver e de saudade que aperta pelos que mais amamos, vivemos as últimas aventuras por terras de Cabo Verde.
Equipa NDM Cabo Verde 2008 - S. Antão e S. Vicente
Joana Lopes, Fábio Santos, Paula Leite e Vanda Lacão

Mantenhas dos Voluntários NDM Bissau




Já lá vão oito semanas de estadia em Bissau, das quais sete foram dedicadas a formações.

Começamos com duas formações nas áreas de Português e Matemática, integradas no Curso de Educadoras de Infância, no Liceu João XXIII. O que inicialmente parecia ser um trabalho difícil, dadas as dificuldades das formandas, sobretudo no domínio oral da Língua Portuguesa, rapidamente se revelou uma tarefa estimulante e gratificante. Dado o empenho e interesse do grupo, bem como o ambiente de partilha e à vontade que se foi gerando ao longo das sessões, foi possível atingir com êxito os objectivos a que nos propusemos. Sentimos que estas formações foram tão enriquecedoras para nós como para as futuras educadoras de infância. No final, ficámos emocionados ao sermos presenteados com uma actuação musical e dramática, organizada pelas nossas formandas, mostrando-nos o quanto aquele mês de trabalho tinha sido importante para elas, não só pelas dificuldades que conseguiram superar, como pela relação de amizade que se criou.

No segundo mês esperava-nos a Formação em Animação Juvenil e Comunitária com jovens de várias associações guineenses. Questionávamo-nos se seria possível revelar-se uma experiência tão gratificante quanto a primeira... até porque o atraso inicial, devido ao surto de cólera, fez com que nos sentíssemos um pouco desmotivados.

No primeiro dia de formação, com membros de associações de Bissau, rapidamente nos apercebemos de que tínhamos um grupo, ainda que com características muito diferentes do anterior, muito participativo e estimulante. Aguardava-nos a árdua tarefa de conseguirmos corresponder às elevadas expectativas que este tinha em relação à formação. Terminada a primeira fase desta actividade, somos levados a admitir que afinal existe um Amor como o primeiro...

Iniciámos esta semana a segunda fase desta formação, com um grupo de jovens de associações de várias regiões do país e estamos empenhados em garantir mais uma vez uma experiência de enriquecimento mútuo.

Mantenhas para todos.
Equipa Nô Djunta Mon Bissau 2008




Tânia Vicente, Rita Fraga, Margarida Madureira e Tiago Pinto

Tuesday, September 16, 2008

Das terras de São Tomé...

Bomjaô!

Desta terra calorosa queremo-vos enviar as principais notícias destas primeiras semanas...

Sensações...
A nossa recepção não podia ter sido melhor com o belo abraço e sorriso do famoso Pastor Franscisco e simpática Lili! Deitar cedo e cedo erguer tem sido o nosso ritmo "leve leve". Temos sido aprendizes no regatear do mercado, usando e abusando da expressão: "Che, carrro!?" Intensa e diferente foi a nossa experiência no culto do domingo passado, no qual fomos apresentadas à comunidade da Igreja Evangélica… Ao andarmos pela cidade as expressões de piropo são muitas, mas a mais acertada e recente é como nos categorizam de "Massa bruta; Pacote e Só canina!" Temo-nos deliciado desde o “mata bicho” ao jantar, tentando sempre experimentar os produtos santomenses. A descer ou subir do bairro Riboque já ouvimos o nosso verdadeiro nome o que nos transmite um sentimento de pertença a este belo bairro!Nos momentos seguintes, o trabalho apressou de ritmo, e, já não foi tão “leve leve”.

Sobre o trabalho...

Local: Cidade de S. Tomé
Intervenção: Workshop de Introdução à Universidade com Estudantes BolseirosPonto de Situação: Reunimo-nos c o Ministro da Educação e a Responsável pela Secção de BOLSAS. Foi mostrado grande interesse e disponibilidade para a realização do workshop, donde se agendou o mesmo para dia 10 de Setembro, com previsão de 50 alunos bolseiros.Além disso, foi proposto ao ISU organizar uma sessão de orientação profissional (acesso ao ensino superior) que irá ser agendada para o mês de Outubro.Reunimos com o actual Director da DGESTS - Félix Vicente e com o Sub-director do Liceu Nacional, A divulgação vai ser através da rádio e a equipa fará cartazes... mas estamos à espera que saia o resultado dos bolseiros seleccionados.Temos o apoio do Weston e do Ice ( estudantes S. Tomenses a estudar na Universidade do Algarve) para dar o testemunho e apoiar no Workshop.


Local: Bairro Riboque - Casa da Sopa
Intervenção: Capacitação do grupo de animadoras e animadores em Animação infantil: Lili, Sónia, Abdolai e Walton.
Ponto de situação: Foi identificada pelo grupo a necessidade de mostrar à comunidade o trabalho que a Casa da Sopa tem vindo a desenvolver... Foi necessário desmistificar a ideia da equipa NDM 2008 vir para trabalhar directamente c as crianças...No total de 5 sessões, fez-se o diagnóstico e planeamento geral. O trabalho tem corrido bem, no entanto o processo de chegar a ideias claras e objectivas tem sido lento. É de referir contudo que o grupo está motivado e com vontade de trabalhar. Assim, nas próximas 3 semanas decorrerão actividades de preparação para uma “Actividade em grande” que reunirá as várias áreas de trabalho da casa da sopa, como a dança, a música (coro), o teatro, as artes plásticas e o artesanato. Pensou-se, assim, num desfile de moda c materiais reutilizáveis, complementado com uma exposição de trabalhos.
Sendo que a formação foi uma necessidade apontada pelo grupo, estabeleceu-se contacto com o Centro de Formação Profissional do Budo Budo, tendo ficado uma porta aberta para possível integração dos monitores da casa da sopa nas formações – especificamente de acção educativa e trabalho comunitário.


Local: Roça Água Izé
Intervenção: Capacitação do Grupo de Animadores Juvenis em Gestão de Projectos
Ponto de situação: Houve uma proposta de alteração de data para o início da formação em Gestão de Projectos. Existe uma incerteza em relação ao calendário. Espera-se uma resposta final por parte do Missionário Ivanor.

Nô Djunta Mon S. Tomé 2008 - ISU Faro

Inês, Rita e Milai


Desbravando a Guiné-Bissau




SU:
Aquele que pensámos que seria o nosso projecto NDM durante toda a preparação em Lisboa, revelou ser, no último dia antes da partida, completamente diferente… Depois
do “pânico” inicial, podemos dizer que foi uma excelente alteração de planos para nós e esperamos que para os novos parceiros que resultaram desta alteração, também!
Assim, o grupo de Pitche e Pirada (com ficámos conhecidos pelo ISU e restantes companheiros NDM) merece ser rebaptizado para grupo Guiné! Em vez de ficarmos um mês em Pirada e outro em Pitche (como previsto), devido ao cancelamento da formação de professores que foram convocados a estarem presentes noutra formação do Ministério da Educação (retirando assim um mês de trabalho ao projecto inicial), acabámos por assegurar duas semanas de formação em Bissau, também a professores do ensino básico, no Liceu João XXIII. Desta forma, estivemos juntos com o grupo de Bissau: Margarida, Rita, Tiago e Tânia. O nosso parceiro foi também o CIEE – Comissão Inter-diocesana de Educação e Ensino e vivemos as primeiras três semanas de Guiné-bissau, na Cúria.

Enquanto nós trabalhávamos com os professores aquela que é língua oficial neste país, a língua de Camões (e também 3 dias dedicados à pedagogia da matemática), o grupo de Bissau trabalhava os mesmos temas com um grupo de futuras educadoras de infância. A vida a 7 correu muito bem entre cozinhados, limpezas, lavagem de roupa no tanque, compras na feira do Bandim, passeios a pé e de toca-toca, visitas à família da Iza (sim, temos a sorte de ter uma descendente Guineense no grupo, que fala crioulo!), conversas, risos, música e aquela que era a tarefa diária e obrigatória: a preparação da sessão do dia seguinte. Decidir os conteúdos mais pertinentes na vasta gramática portuguesa, a forma de passá-los, o tempo que iríamos dedicar a cada tema, a preocupação pedagógica e criativa, a importância da participação dos formandos… porque em qualquer formação o mais importante é a partilha de conhecimentos, experiências e amizade. E isto foi conseguido!

Sentimos grandes dificuldades na comunicação e questionámos até a pertinência de ser o português a língua oficial já que todos os guineenses falam crioulo, depois o dialecto da sua etnia e só depois a língua oficial; os professores embora “tenham” que dar as aulas em português têm imensas lacunas visto que a maioria fez o 11º ano neste “sistema de aprendizagem da língua” e depois obviamente vai dar as suas aulas de acordo com aquilo que sabe. Enfim, esta é com certeza uma matéria polémica e que envolve variadíssimas questões… mas não podíamos deixar de fazer este “desabafo”.

Temos a certeza que estas duas semanas contribuíram para relembrar aspectos importantes sobre o português e a matemática, agora só é preciso que os professores continuem a aperfeiçoar cada vez mais os seus conhecimentos e competências através de mais formações e estudo constantes. Terminámos as duas semanas de formação com poemas, música, palmas, doces e um jogo de futebol entre as duas turmas! Nesta fase despedimo-nos do nosso parceiro (cumprimentos/mantenhas para o padre Joaquim, Irmã Noeli, Irmã Dina, Irmã Lurdes e todas as outras Irmãs) e despedimo-nos do grupo de Bissau com fortes abraços e votos de continuação de bom projecto, a partir daquele momento sem nós J! Os 3 seguimos do enterramento para Gabu… mais uma excelente etapa desta “viagem”. No Sta Djunto!


IZA:
Após as primeiras três grandes semanas de Nô Djunta Mon em Bissau foi altura de partir para Gabú, onde estava a decorrer a III Escola Nacional de Voluntariado da Guiné Bissau, organizada pela RENAJ (Rede Nacional de Associações Juvenis) e onde o grupo de Pitche e Pirada iria durante uma semana dar formação.
Despedimo-nos do grupo de Bissau já com saudades.

Planos de trabalho e parceiros de projecto diferentes levavam-nos a conhecer uma outra Guiné. Chegamos à escola Luís Fona Tchuda, o local do encontro, e deparamo-nos como uma outra realidade. A nossa chegada interrompeu um dos jogos de futebol do campeonato da Escola, mas ainda assim a recepção foi calorosa. A equipa da Comissão apresentou-nos o espaço: as sete camaratas, a cozinha/ espaço para preparação das refeições, as salas de formação, a campo de futebol e o espaço reservado à bandeira do país. Todo aquele recinto escolar tinha sido devidamente preparado para o encontro.
Participavam na escola cerca de 150 jovens formandos entre os 15 e os 30 anos de idade. Havia toda uma organização que era seguida à risca por todos os participantes...éramos muitos e sentia-se essa necessidade. Havia horas para acordar e dormir, horas para as refeições, horas para as actividades desportivas e claro…para o djunbai. A Escola, pela sua organização fazia lembrar um campo de férias (em que os jovens não estavam de férias).

A par da formação que decorria de segunda a sexta durante quatro horas, a Escola tinha programado outras actividades de lazer, culturais e desportivas. Os dias na escola eram vividos de forma bastante intensa...o djunbai diário, a partilha de camas, casas de banho e refeições fazia com que todos aqueles “campistas” que conhecíamos à apenas alguns dias já fossem para nós colegas de longa data.

O grupo de Pitche e Pirada formava duas turmas diferentes: uma de saúde sexual reprodutiva e outra de associativismo, cidadania e voluntariado. Cada uma das turmas tinha cerca de 25 formandos. Como é de praxe nas formações do ISU a metodologia utilizada era a da máxima participação possível para que os jovens se sentissem envolvidos e se identificassem com a formação que integravam. A língua portuguesa era, para alguns formandos, uma barreira de comunicação, o que fazia com que nos primeiros tempos de formação alguns deles se tivessem sentido mais retraídos. A seu tempo foi sendo cumprido o objectivo da formação e no final foi possível fazer uma avaliação positiva da mesma. Pensamos ter contribuído com o nosso melhor para o cumprimento de mais um desafio deste projecto.

Foi uma experiência nova e sem duvida enriquecedora….ali víamos aquilo que de Portugal nos diziam ser o nô djunta mon.
O nosso muito obrigado à Comissão e a todos os campistas pelos momentos que nos proporcionaram.


FRANCISCO:
Em Pirada, bem no interior da Guiné-Bissau, a 10 minutos a pé da fronteira com o Senegal, terminamos agora uma experiência bem intensa: rica, mas cheia de contradições.

Na casa da ONG guineense Divutec, de onde escrevo, fomos carinhosamente acolhidos pelo Sérifo, o Ussumane e a Mariama. Aqui nos habituámos a cozinhar a carvão e a comer todos da mesma travessa, a ir buscar água ao poço e a ter um buraco no chão a fazer as vezes de casa de banho. Aqui nos refugiámos deste calor pesado e indescritível, que torna cada gesto uma epopeia. Aqui tivemos longas e divertidas conversas, bebemos warga (um chá delicioso) e conhecemos um monte de miúdos que todos os dias nos apareceram à porta (e que neste momento estão ao meu lado a ver-me escrever no bloco e a gozar comigo, imitando os todos os meus gestos).

Na primeira semana demos uma formação às parteiras e aos agentes de saúde das tabancas (aldeias) da região em educação para a saúde e nutrição. Elas e eles apareceram-nos todos os dias com longos sorrisos, uma grande calma e uma imensa vontade de aprender. E com dois enormes obstáculos: quase ninguém falava crioulo (português ninguém fala!), e quase ninguém sabe ler nem escrever. Foram cinco dias de formações traduzidas para fula (a língua local) pelo Sérifo, sem cadernos nem quadro, entre difíceis momentos expositivos e pequenos trabalhos de grupo.
Aqui, onde não chegam medicamentos ou médicos, e sobretudo não chega informação, a diarreia, a malária, a sida, a tuberculose e tantas outras doenças fazem parte do quotidiano das tabancas. Aqui, onde a formação e o nosso pequeno contributo são mais precisos, é onde eles são mais difíceis. E na mesma medida em que percebemos a importância do que cá viemos fazer, sentimo-nos largamente frustrados por todas as nossas limitações.

A segunda semana foi passada com os jovens de Pirada, para falar de cidadania, associativismo e saúde sexual e reprodutiva. De novo dois obstáculos, agora mais fáceis de contornar. Por um lado quase ninguém fala português. Graças à Iza, que fala crioulo, procurámos fazer quase toda a formação naquela que é, a existir alguma, a verdadeira língua nacional da Guiné-Bissau. Por outro lado, tínhamos quase 50 formandos. É um número muito difícil de trabalhar e foi impossível haver silêncio, mas é óptimo ver tantos jovens com vontade de aprender.

Aqui, onde as oportunidades e o emprego vêm e vão com o vento (e há muito pouco vento na Guiné), todos desejam apenas uma coisa: “Leva-me contigo para Lisboa!”. Aqui, onde não chega a educação e a informação, são poucas as hipóteses de um jovem se sentir útil e realizado, e de participar activamente na construção do país e de um futuro. Aqui em Pirada, quase 50 jovens participaram pela primeira vez numa formação. Pela primeira vez estiveram juntos desta forma, a discutir ideias. Aqui, sabemo-lo, as formações são precisas. Mas também sabemos que uma semana não basta…!


EQUIPA NDM PITCHE E PIRADA 2008

Susana Costa, Izaliana Parente e Francisco Pedro

Wednesday, September 3, 2008

Cabo Verde é Sabe!







Em pleno dia de chuva, finalmente sentamo-nos a escrever-vos. Chove como não se via há anos, com direito a trovões e a ribeiras que transportam para o mar aquilo que as montanhas, agora verdes, expelem.

Os dias têm sido agitados desde a nossa chegada, sempre com algo para fazer ou descobrir. Depois de uma primeira semana de viagens, descobertas, conhecimento de novas pessoas e muita diversão, pusemos mãos à obra e todas as manhãs e tardes, enquanto o Fábio e a Paula cuidavam das lides domésticas (isto de não ter frigorífico obriga-nos a ir diariamente às compras), a Vanda e a Joana estiveram com líderes associativos de várias zonas de Santo Antão a realizar a primeira formação do Projecto Nô Djunta Mon Cabo Verde 2008 – Formação em Metodologia de Projecto.

Depois desta primeira experiência de formação, que muito satisfez todos os envolvidos, sobretudo as formadoras, chegou a vez da Paula e do Fábio e da formação em Gestão de Pequenos Negócios. As 20 mulheres presentes, maioritariamente peixeiras, que participaram na formação, tornaram-se boas companheiras durante esta semana de trabalho, o que fez com a Paula e o Fábio tenham sentido que a sua missão foi cumprida. Desta vez, coube à Joana e à Vanda a árdua tarefa de garantir a paparoca, enquanto aproveitavam para fechar a semana anterior de formação e programar a próxima.

No meio de todo o trabalho ainda houve tempo para a diversão numa das festas da cidade, o Festival dos Curraletes, e para o passeio durante um fim-de-semana às zonas mais verdes de Santo Antão. Estivemos na Ribeira Grande e no Paul, onde fizemos longas caminhadas (uma delas no escuro), e nos perdemos entre bananeiras, mangueiras, canas-de-açúcar, inhame, entre outras iguarias desta terra de pontch de mel.

Na última semana deslocámo-nos até ao Tarrafal de Monte Trigo. Depois de 5 horas de solavancos e montanhas lunares, entre pedras e ravinas, esperava-nos uma formação em Associativismo Juvenil, muita hospitalidade, festas de baptizado, amigos, chuva, ausência de luz, paisagens de tirar o fôlego, um mar e um céu imensos, golfinhos e muita alegria. No final da semana as opiniões foram consensuais no grupo: no Tarrafal sentimo-nos em casa e vivemos algo que será um marco na vida de cada um de nós.

Agora é tempo de "arrumar a trouxa e zarpar" de Porto Novo, despedirmo-nos da cidade que nos acolheu durante o último mês e partir de coração aberto para o que se segue.

Nô t' oia na Salamansa!!!
Fábio, Joana, Paula e Vanda