Wednesday, November 14, 2007

CRÓNICAS DA TERRA


Estas palavras…!

…estas palavras escrevo para alguém! Para alguém que tal como eu está longe! Longe do meu país, longe da minha família, de todos os portos de abrigo que conheço…longe de mim! Até de mim… Que sensação é esta? Que desarranjar…que desconcertar! Tudo rodopia a minha volta a uma velocidade ansiosa de quem não quer perder pitada!

O meu chão já não é o mesmo…!
Agora no meu chão não chove! O meu quadro é feito de montanhas pontiagudas que rompem os céus e rasgam as nuvens! O meu chão dança debaixo dos meus pés delicados, que gretam ao sabor de cada “topada” que dou nesta estrada de cheiros, tactos e sabores que familiarmente estranho.

A minha lua já não é a mesma…!
Agora ando com a cabeça na terra e os pés na lua! No chão árido, duro e tenebroso que me leva, num caminho interior, até a um mar quente que me abraça e reconforta. Onde as ondas se misturam com risos, com o chapinhar de brincadeiras e pequenos tubarões que se perdem na espuma branca da realidade.

A minha rua já não é a mesma…!
Na minha rua já não há barulhos de gente grande e confusa! Na minha rua buzinam os risos das crianças, que maravilham os meus ouvidos e atormentam a minha paciência. Mas quando acho que já não tenho mais, ela renasce ao som de mais uma gargalhada ou de um “Konquir” de porta!

A minha casa já não é a mesma…!
A minha casa agora é outra! É bem quentinha e abafadinha! No calor da noite, transpira baratas, “sempés” e ratos. Mas é a minha casa. A casa que se enche de gente num vai e vem de visitantes que cumprem os mais diferentes rituais. Ora se joga as cartas, ora se discute, ora se brinca, ora se conversa, ora se dança, ora se desespera.

Os meus formandos já não são os mesmos…!
Os meus formandos olham-nos com a sede do saber a brotar pelos olhos, como se três (a conta que Deus fez) não chegasse para tamanha curiosidade. Os meus formandos não compreendem tudo mas vão mais além do que alguém que sempre soube tudo gratuitamente. Os meus formandos têm instinto de verdadeiros leões, que esperam atentamente pela resposta que está não dentro de nós mas sim neles. Os meus formandos são verdadeiros sabichões.

A minha família já não é a mesma…!
A minha família é bem pequenina! A minha família faz crescer o espírito e ensina a viver, a torturar os defeitos e a brincar com as virtudes. A minha família goza, a minha família dá gritinhos que nem gente histérica, a minha família dá gargalhadas de “Sabura”, a minha família “amarra a burra” que nem “Kodés” mimados. A minha família é um caso que de real não tem nada e que de sonho tem tudo!

Nada disto é meu! Mas tudo isto me pertence… Não abro mão!
Mi’n ta abri môn! Mi ta djunta môn!

Equipa Nô Djunta Mon 07
Ana Miranda, André Bordeira, Maria do Céu
Cabo Verde

23/10/2007

4 comments:

Joana said...
This comment has been removed by the author.
Joana said...

Parabéns pelo trabalho desenvolvido!!
Estou ansiosa para ver as fotografias e falar com a Maria, ouvir o seu testemunho, as experiências vividas!!

A começar por estas palavras, compreende-se que só sabe do que se trata quem vive e experiencia momentos como estes.
Serão momentos que irão recordar sempre!
Continuem o trabalho! Há muito para fazermos!

Joana Viana

Anonymous said...

Parabéns Cabo-Verde!!Os únicos a mandarem duas vezes notícias!!!Boa!!
Rita Magalhães

Cristiana said...

bem finalmente consegui efectuar o registo para podervos deixar um comment... fiquei contente por encontrar alguem que tal como eu e outros voluntarios que conheo querem fazer algo pela guine e outros PALOPs... felizmente tb eu tive a possibilidade de conhecer a irmã solange e as restantes irmãs Franciscanas de cacheu e é para elas tb a quem envio um enorme beijinhu... Afirca nao se fala vivesse e dsperta em todo os que a visitarem uma enorme sensibilidade tendo em conta que se revela um verdadeiro grito na consciencia de todos... os meus parabens...